segunda-feira, 22 de abril de 2013

Diário do Nordeste divulga trabalho de escritores cearenses

 
Jovens cearenses se revelam escritores assíduos, determinados a difundir suas próprias histórias
 
Eles existem. Estiveram, por muitos anos, escondidos nas profundezas de seus quartos, entre os cadernos da escola, apostilas de concurso ou telas de notebooks. Mas agora, eis que emergem do anonimato, revelando ao mundo suas identidades secretas.

Pablo Vargas ministra palestras de escrita criativa e se prepara para lançar "Os Oito Guardiões"

Deixando a sinopse cinematográfica de lado, estamos falando de jovens escritores. Nunca foi difícil encontrar quem tivesse um bom enredo em mente, uma história que quisesse contar. Atualmente, com a profusão de conteúdos: seriados, filmes, jogos e livros cada vez maiores, não falta, entre os jovens quem se ache capaz de criar uma saga, um mundo fantástico. Poucos, no entanto, realmente dão continuidade a esse desejo. Aos poucos, o Brasil começa a se inserir no competitivo mercado de literatura teen, que aglutina gêneros como romance, suspense, fantasia e ficção científica. Nomes como Raphael Draccon, André Vianco e alguns outros já são reconhecidos como referências da literatura fantástica nacional entre os leitores do gênero.

Mas e a produção local? Existem, sim, cearenses produzindo e publicando livros, que circulam pela internet em uma ativa rede de compartilhamentos: os perfis dos próprios escritores, nas redes sociais, e seus blogs literários.

A maioria já tinha o costume de criar enredos e não só pequenos ensaios ou contos. Muitos deles têm romances inteiros ainda inéditos, em pastas de computador. Conquistaram a tão sonhada publicação através de editoras e sites de publicação por demanda, em que o livro é impresso de acordo com os pedidos dos leitores.

 
Entrelinhas
As cearenses Cristina Aguiar e Kamile Girão já publicaram seus livros. Pablo Vargas e Renato Gondim estão em processo de revisão. Todos os livros se situam em mundos fantásticos ou possuem algum traço sobrenatural.

Para Pablo Vargas, estudante de Engenharia e palestrante de escrita criativa, a literatura fantástica funciona como possibilidade de fuga. "Acho que assistimos a filmes, seriados, lemos ou jogamos para fugir um pouco da nossa realidade, para imaginar. Talvez por isso a fantasia seja um gênero tão atraente", defende.

Cristina parece concordar com Pablo. A escritora confessa que a possibilidade de criação de um mundo alternativo é estimulante. "Ao terminar ´A profecia de Hedhen´, vi que tinha criado um mundo muito maior do que o próprio livro e que valia a pena seguir escrevendo histórias dentro do mesmo universo. Apesar de ter outras produções, estou transformando esse primeiro livro em uma saga de quatro volumes", explica o autor.

"Os oito guardiões", de Pablo Vargas, também consiste em uma saga, neste caso com oito livros. "Cada livro se passa em um mundo diferente, com novos personagens e cenários", detalha. Para não perder o fio condutor nem ter problemas de continuidade em uma história tão longa, Pablo construiu fichas técnicas dos personagens. "Além de ler muita fantasia e suspense, li também livros do tipo ´como escrever um best-seller´. Isso me ajudou a organizar e desenvolver meu texto". Esta habilidade, aliás, foi o que lhe levou a dar palestras na Livraria Saraiva sobre escrita criativa e como colocar ideias no papel.

Renato Gondim (ou C. R. Gondim, como deverá assinar) recorreu a um coaching literário. O cearense tem sessões periódicas com o consultor: um brasileiro que mora na Inglaterra. "Conversamos por Skype. Passo os textos e ele me dá um feedback. Além disso, ele agencia o livro, entra em contato com as editoras. Valeu a pena contratá-lo", afirma. Quanto ao processo de escrita, cada autor parece ter seu "modus operandi".

Inspirado em mitologia europeia e história medieval, "A Profecia de Hedhen" exigiu de Cristina um bom acervo de livros de História. Já para Kamile Girão, a pesquisa é importante, mas não é prioritária. Em seu último livro "Outubro", Kamile deixa a fantasia explorada em seu título de estreia "Yume" e se aventura em um drama romântico, ambientado em um hospital. "Tenho uma tia enfermeira e nossas conversas foram muito importantes para que eu pudesse entender a dinâmica de um hospital, mas acho que o escritor não deve se prender muito, o mais importante é usar a imaginação e colocar no papel aquilo que lhe vem à mente", opina a autora.
Leituras
As referências literárias são essenciais no processo de desenvolvimento de um estilo próprio. Sobre isso, todos os escritores parecem partir das mesmas pedras fundamentais: J. R. R. Tolkien e seu "O Senhor dos Aneis"; J. K. Rowling e o mago Harry Potter; e as "Crônicas de Nárnia", de C. S. Lewis.

Escritores brasileiros estão em segundo plano. Inclusive, curiosamente, quando existe alguma citação de autor nacional entre as inspirações dos novos autores, são clássicos como Alvares de Azevedo e Machado de Assis.

São poucas as marcas de alguma brasilidade nos enredos, o regionalismo é ainda visto como desvantagem na hora de conseguir uma editora. "As pessoas podem não se identificar com seu texto, então o melhor é criar um mundo alternativo", defende Vargas. Renato concorda: "Uma das coisas que os consultores sempre dizem é manter uma linguagem mista, global".

Apesar de consistir no gênero talvez mais amplo da literatura, já que não se pode medir o sobrenatural, o fantástico parece limitar-se em regras ultimamente. Se impostas pelo mercado, por leitores ou pelos próprios autores não se sabe ao certo. Além da eliminação de regionalismos, os personagens fantásticos aparentemente também viraram regra. Quase sempre são provenientes de lendas europeias (fadas, duendes, bruxas...), do medievalismo de Dungeons and Dragons (dragões, guerreiros, arqueiros, feiticeiros...) ou de lendas urbanas, como vampiros, zumbis, lobisomens e anjos.

Sobre isso, Gondim acha que essa saturação é causada pelo próprio mercado editorial. "Quando um tema vende, eles começam a publicar até enjoar. Por exemplo, agora são anjos e vampiros. Não há renovação do tema", comenta.

Na página da própria Modo Editora, responsável pela publicação dos livros de Cristina Aguiar e do também cearense Mateus Lins, um curioso aviso consta entre os critérios de recebimento de originais: "Não se adequam à nossa linha literária: temas sobre vampiros, lobisomens, fadas, gnomos, demônios, anjos, bruxas - somente se for com uma ideia muito diferenciada."

Kamile Girão, no entanto, acha que não se deve levar em consideração a repetição de temas. "Reconheço que vampiros foram explorados até a última gota, mas se uma pessoa gosta e se sente bem escrevendo sobre isso, ela deve continuar. Sou da opinião de que se deve escrever sobre o que te deixe confortável."

Avaliando a produção atual desta novíssima literatura fantástica, pode-se dizer que, ainda que a maioria dos escritores possua seus próprios veículos de crítica literária, a exigência empregada aos livros alheios nem sempre é garantia de produções cada vez mais rigorosas.

"Há muitas ideias. Muitos bons enredos, mas também há muita pressa. Trabalhei como revisora para uma editora e vi ideias boas, mas escritas sem nenhum preparo, mal escritas mesmo", afirma Kamile Girão, que, aliás, considera que "Yume", seu livro de estreia, também poderia ter sido melhor.
FIQUE POR DENTRO
Publicar sem gastar nada. É possível?

O maior desafio para escritores iniciantes é, certamente, a publicação. Para dirimir essa dificuldade, algumas editoras vêm adotando a "publicação por demanda". Através desse método, os livros são recebidos pela editora, diagramados, colocados à disposição em lojas virtuais e só chegam a ser impressos se adquiridos. Um dos sites mais populares nesse tipo de serviço é o Bookness. Definido como "plataforma de autopublicação" ou mesmo como biblioteca virtual, o site permite que o autor divulgue sua obra sem necessariamente vendê-la, disponibilizando-a para leitura no site. O livro, no entanto, pode ser vendido. Nesse caso, o autor estipula um valor para o formato digital e outro para o livro impresso, sendo este entregue direto no endereço do comprador. A Bookness avalia o custo gráfico da obra e o autor define quanto quer ganhar sobre cada venda. O valor é repassado direto para a conta corrente do escritor. Cearenses como Cristina Aguiar e Mateus Lins optaram por uma editora sul-mato-grossense, a Modo Editora, para publicar seus livros. Seu método de publicação é muito parecido com o Bookness, já que o autor custeia apenas o serviço do capista. Antes de enviar seu original para qualquer editora ou plataforma online, no entanto, é recomendado que o escritor faça o registro de seu livro na Biblioteca Nacional, para se salvaguardar de fraudes.
SinopsesOs Oito Guardiões
Livro de Pablo Vargas. Volume I: Os Oito Guardiões Contra o Reino de Vostrom. Thomas, um jovem guerreiro vê sua vida modificada com a chegada de Eve, uma garota alada da Cidade das Asas, dizendo que juntos devem fazer uma jornada pelas Oito Cidades a fim de combater o perverso Vostrom e seus Generais. Livro em fase de revisão. Contato: www.osoitoguardioes.com.br
A profecia de Hedhen
Livro de Cristina Aguiar. Volume I da Saga Os Tronos da Luz. Os Tronos eram forças que reinavam nos dias antigos com o título de "Luminares", e através deles, a paz era garantida aos povos. Mas as trevas chegaram e três sinais dos "Luminares" estariam marcados nos corpos daqueles destinados a receber essa luz ancestral. Será que essas três pessoas teriam forças para lutar contra o mal e trazer de volta a paz dos dias antigos? Livro à venda no site da Editora Modo (www.modoeditora.com.br)
O Reino de Mira
Livro de Mateus Lins. Sinopse: Mira é uma princesa cheia de responsabilidades que vive em um castelo cercado por um magnífico e pacífico reino. Entretanto, os tempos trazem surpresas à garota e desafios vão se traçando para ela e seu melhor amigo, Pedro. Livro à venda no site da Editora Modo
Outubro
Livro de Kamile Girão. Sinopse: "Você sabe o por quê das folhas caírem no Outono?" Shau desconhecia a resposta para aquela pergunta - até conhecer Kaero Morgan, em outubro de 2004. Outubro, 2013. Para Felipe Alves, seria somente mais um dia de trabalho no hospital. Contudo, ao entrar no quarto 706, o jovem percebeu que aquele não seria um mês comum. Livro à venda no site da editora Literata (www.editoraliterata.com.br).

*C.R. Gondim preferiu não divulgar a sinopse de seu livro, dada a fase ainda inicial do projeto
MAYARA DE ARAÚJOREPÓRTER

Um comentário:

  1. Olá Luis Boto.
    Eu sou testemunha de que isso é possível.
    Eu mesma já realizei o meu sonho de editar o meu livro de poesias sensuais sem pagar nada por isso...
    Como você mesmo disse, o livro é impresso a cada pedido e nas datas comemorativas a literatura a editora dá promoções, baixando o preço para leitores e autores.
    Deixo aqui o link do meu livro onde terás a oportunidade de ler as dez primeiras páginas.
    https://www.clubedeautores.com.br/book/130327--Petalas_de_seducao

    Desejo sucesso para todos eles.
    Um abraço, Luis.

    Ivany

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