segunda-feira, 8 de julho de 2013

Graciliano Ramos é homenageado na FLIP 2013


Graciliano Ramos em sua escrivaninha, em foto de 1981

A primeira mesa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) do ultimo domingo (07/07/2013) teve como tema “Graciliano Ramos: políticas da escrita” e contou com a participação de Wander Melo Miranda, autor de “Graciliano Ramos”; Lourival Holanda, autor de estudos sobre cultura e literatura; e Erwin Torralbo Gimenez, pesquisador responsável pelo Arquivo Graciliano Ramos do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. O encontro teve a mediação do escritor José Luiz Passos.
Passos iniciou o debate declarando que o desafio do escritor é produzir um texto político, sem ser panfletário. Miranda lembrou que Graciliano Ramos, sobre esse assunto, defendia que havia margem de manobra dentro desse objetivo: “entre os estreitos limites da gramática e da lei, podemos nos mover!”. Um dos instrumentos de Graciliano para alcançar esse fim, segundo Miranda, era a ironia: “a linguagem pode dizer o contrário do que diz”, observou.


Lourival Holanda destacou passagens do livro “Infância”, de Graciliano. Nessa obra, o autor revive sua experiência dolorosa e revela uma percepção do mundo marcada pela rispidez e violência, por outro lado, o crítico aponta que é nesse momento que nasce a sensibilidade do autor alagoano. “A infância é o país de quem escreve. Graciliano compara a escola a uma prisão. Todas as escolas são prisões porque elas se transformam em um sistema e depois em doutrina. A doutrina é o contrário da inteligência”, comentou Holanda.
Passos pediu que Miranda comentasse a seguinte citação de Graciliano: “Na escuridão percebi o valor das palavras”. O professor então revelou que, criança, Graciliano teve uma crise de oftalmia, que o deixou vários dias sem conseguir enxergar. “A mãe, de forma cruel, o apelida de bezerro encourado e cabra cega. Nesses dias ele escuta o que está passando na rua e as vozes dentro de casa. Ele consegue articular essas vozes na sua obra”, explica Miranda.
Gimenez acrescenta: “Esse episódio da cegueira, relatado em “Infância”, também tem uma dimensão metafórica: ele perde a dimensão dos objetos nítidos, mas mergulha no mundo da subjetividade. Ele percebe que a realidade tem dimensões outras, não é apenas um realismo estéril”.
Sobre o estilo de escrita considerado “seco” de Graciliano, por evitar o uso de adjetivos, Holanda aponta que o autor fazia uma crítica ao estilo vigente em seu tempo: “No momento em que o Graça escreve, a cultura brasileira é excessivamente palavrosa, então, ele faz o debaste. Graciliano procura o silêncio que potencializa o que vai ser dito”.

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