terça-feira, 1 de julho de 2014

TERRA SEM LEI - Capítulo 1






No meu post de 19/06/2014 eu apresentei o prólogo e os personagens de meu livro "Terra sem Lei", e como eu havia prometido, para comemorar os 2 anos do lançamento do livro e também para fazer uma homenagem à obra, resolvi divulgar um capítulo comentado da obra por semana. Como promessa é dívida, estou postando aqui o Capítulo 01 da estória. Espero que gostem.

O título do primeiro capítulo se chama "Lucena", pois é logo no início da estória que apresento ao leitor a pessoa de Carlos Lucena e sua família: a esposa Maria e seus filhos Orlando e Vivian. Como todo bom romance, o enredo começa devagar. Procurei detalhar os personagens, a paisagem e a casa grande onde a família Lucena mora, ao mesmo tempo em que é mostrado o chamariz que vai envolver toda a trama: a ganância exacerbada de Carlos Lucena pelas terras de João Silva.

Confiram o capítulo na íntegra!



1

LUCENA

O sol estava ardente naquela tarde, a terra seca e arenosa raramente coberta por algum juazeiro ou menos ainda por mandacarus e arbustos que formam aquele agreste, o céu limpo sem nuvens, porém com alguns urubus que contrastam com sua cor a procura de comida, uma pequena poça d’água barrenta aqui, outra mais lá adiante e só. É como pode ser descrita essa paisagem típica da região do sertão central do Ceará, no nordeste brasileiro. Um lugar belo de se ver, mas hostil para quem vive nele, que não raro, castiga o povo com prolongados períodos de seca.

Num lugar tão deserto não se pode deixar de notar um grande coche puxado por dois cavalos comandados por um cocheiro maltrapilho que avança rapidamente em meio ao sertão, a ponto de deixarem para trás uma grande nuvem de poeira em seu rastro. Seguindo intrépido o seu caminho, o coche desenvolve uma velocidade que mostra claramente a sua pressa em chegar ao seu destino. Os cavalos alcançam o horizonte de um serrote e de lá se avista mais adiante um grande e belo casarão rodeado de currais e árvores secas, além de algumas pessoas que parecem trabalhar naquele lugar. O cocheiro invoca os cavalos e o veículo avança serrote abaixo de encontro àquela casa.

No pátio do casarão, um homem de roupas finas e elegantes brinca com um casal de crianças, onde o menino aparenta uns dez anos de idade e a menina não deve passar dos oito. O casalzinho não esconde a alegria de estar brincando com aquele homem, que vez por outra se esquiva das crianças a fim de não sujar seu belo terno.

De dentro da casa surge uma formosa mulher vestida com um longo vestido sem nenhum decote e com glamorosas sobressaias, estilo de moda predominante no início do século, durante o nascimento da República no Brasil.

A mulher avista a chegada do coche em frente à porteira de acesso ao casarão, e chama o homem que ainda se entretém com os prodígios das crianças:

− Carlos, o Sr. Corrêa está chegando!

De súbito, aquelas brincadeiras são interrompidas, o homem de nome Carlos se despede das crianças:

− Continuem brincando e tenham cuidado, eu volto logo.

As crianças reclamam, mas em vão, Carlos se distancia em direção à porteira da casa, ao encontro daquele velho homem que sai de dentro do coche com uma maleta na mão. Carlos olha para a mulher e avisa:

− Olhe as crianças.

Em seguida o elegante homem se aproxima do velho senhor que acabara de chegar, vestido com traje alinhado e um chapéu velho de couro para protegê-lo do sol escaldante.

− Como foi a viagem, Sr. Corrêa?
− Muito calor, Sr. Carlos. Muito calor! – respondeu o velho Corrêa passando um   lenço na testa.
− Vamos, entre e conversaremos mais à vontade – chama o Sr. Carlos pondo a mão no ombro do velho senhor.

Os dois avançam casarão adentro enquanto as crianças agora brincam com a vistosa mulher. Lá dentro, os dois passam pela espaçosa e luxuosa sala de estar, atravessam um corredor e chegam até uma enorme e robusta porta de mogno, onde o Sr. Carlos tira um chaveiro do bolso e com uma das chaves ele destranca a tal porta e a abre, e os dois entram num suntuoso escritório. Carlos senta-se na cadeira do birô central e o velho Corrêa se senta numa das cadeiras em frente. Nesse instante, entra no escritório também uma senhora negra já de idade, e pergunta:

− O Senhor vai querer algo, Sr. Carlos?
− Sim Dinorá, traga água para nós, por favor.
− Sim Senhor – responde a mulher já se retirando do gabinete.

Os dois se acomodam em seus assentos, o velho Corrêa se dirige ao Sr. Carlos:

− Como vão os negócios sem os escravos, Sr. Carlos?
− Ainda estou me habituando, mas está difícil.
− Lá pelas bandas do sul os fazendeiros já estão tendo bastante lucro.
− É, eu sei, mas aqui no sertão Sr. Corrêa, você sabe que as coisas são mais difíceis, tanto que há algum tempo estou pensando em mudar de ramo.
− É mesmo, Sr. Carlos? E os seus funcionários, não são bons como os escravos? – indaga o velho Corrêa com ar de espanto.
− São sim. São muito bons, porém tenho que pagar pela mão de obra, o lucro cai demais e nesse início de regime a crise está feia.

Dinorá chega com uma bandeja com dois copos de vidro e uma bela jarra de vidro cheia d’água. Carlos e Corrêa saboreiam aquela água refrescante a ponto de soltarem discretos sorrisos um para o outro. O velho comenta:

− É uma pena morarmos numa terra tão quente e dominada pelo calor, não acha Seu Carlos?
− É verdade meu caro, mas não há lugar melhor pra se viver do que o lugar da gente, não concorda?
− Sem dúvida. – Confirma o velho Corrêa.

Mas de repente, Carlos muda sua expressão, encarando o velho senhor de forma séria e segura, indagando-o:

− Agora meu amigo, vamos falar no que realmente nos interessa?
− Como quiser, Sr. Carlos – responde o velho, colocando o copo no criado-mudo ao lado dele. Carlos continua:
− Então me diga, como foi a sua conversa com João Silva sobre a minha proposta?
− Bem, eu levei a sua proposta conforme você havia feito, expliquei todos os detalhes, principalmente no que dizia respeito às vantagens para ele, e é claro, tentei ao máximo persuadi-lo a assinar o contrato de venda – explica o velho.
− Certo. E qual foi a posição dele? – questiona novamente Carlos de forma apreensiva.
− O cabeça dura simplesmente disse que não aceita e nunca aceitará nenhuma proposta de compra das terras dele – explica o velho com ar de insatisfação.
− Mas que droga! – inflama-se Carlos batendo com a mão no seu birô e se levantando rumo à janela do escritório que dá para os estábulos do casarão.
− Pois é, Sr. Carlos, e ele ainda mandou avisar que o senhor não mandasse mais ninguém na casa dele pra oferecer dinheiro pelas terras dele, pois jamais venderá o que herdou de seus pais – continua o velho.
− Sr. Corrêa, você sabe que os últimos geólogos que estiveram por essas bandas descobriram que existe muito granito naquelas terras, não sabe?
− Sim, é claro que eu sei! – responde o velho se mostrando um pouco assustado com a expressão hostil de Carlos.
− Você sabe também que eu sou a única pessoa nessa região com condições financeiras suficientes para bancar a exploração dessas terras, não sabe?
− Sei sim! – confirma novamente o velho ainda mais amedrontado.
− E é claro que você sabe que o granito é um minério difícil de encontrar, é muito valioso e pode me tornar um dos homens mais ricos do país, não sabe?
− Com certeza, Sr. Carlos.
− Portanto Sr. Corrêa, se você não teve capacidade para convencer aquela besta de vender suas terras, e não tendo mais ninguém para confiar essa missão, terei que tomar outras providências e de um jeito ou de outro, aquelas terras e todo o granito que há nelas serão meus.
− Eu fiz o que estava ao meu alcance para convencê-lo, mas foi em vão – se desculpa o velho meio sem jeito.
− Está bem, Corrêa, está bem. Agora eu tomo conta do serviço.
− Mas como o Sr. vai conseguir se ele já disse que não vende por dinheiro nenhum? – indaga o velho Corrêa meio curioso.
− Isso já não lhe diz respeito, meu velho, mas pode esperar e verá que vou conseguir o que quero.

O Sr. Corrêa se atenta ao brilho nos olhos de Carlos ao proferir aquelas palavras. Ali, naquela expressão dura feito uma rocha, via-se claramente que Carlos Lucena estava disposto a qualquer coisa para adquirir as terras de João Silva.

O coche agora avança sertão adentro e se distancia da casa de Carlos. Escorado no portão principal da casa, ele apenas observa a carruagem sumir no horizonte levando de volta o Sr. Corrêa.

De repente, Carlos é interrompido por uma singela mão feminina que lhe toca o ombro por trás, ele olha e vê a elegante mulher que havia ficado com as crianças enquanto ele conversava com o visitante.

− Está preocupado, Carlos? – pergunta a mulher.
− Um pouco, Maria, um pouco. Onde estão as crianças?
− Orlando está dormindo, enquanto Vivian está fazendo as tarefas da escola – responde a mulher de prontidão.

Os dois se deslocam rumo à porta de entrada da casa, e Maria pergunta:

− Então Carlos, Corrêa trouxe boas notícias para você?
− Nenhuma, Maria – responde o inconformado homem, ainda com indignação no olhar.
− Então ele não conseguiu convencer João Silva? – insiste Maria.
− De jeito nenhum, o infeliz não vende as terras dele por nada nesse mundo.
− É uma pena Carlos, e olhe que ele nem sabe que tem granito lá! – comenta a mulher meio sem jeito.
− É uma pena pra ele – revida Carlos bruscamente.

A mulher mostra um olhar de espanto ao ouvir aquelas palavras de Carlos, que continua: 

− Sabe Maria, há coisas na vida que a gente insiste em não fazer, luta e reluta, mas chega um momento em que não resta outra saída senão fazê-la.
− Não estou entendendo, Carlos – afirma a mulher já curiosa.
− Você vai entender Maria, você vai entender – acalma Carlos abraçando delicadamente o ombro de Maria.
− A propósito querida, você já providenciou a documentação das crianças pra escola em São Paulo?
− Sim, Carlos, apesar de eu continuar contra essa ideia deles estudarem longe daqui tão novos – responde ela com um semblante meio triste.
− Não fique assim, Maria, também fico triste, mas sabemos que é o melhor pra eles, aqui nessa região não existe boas escolas, e quero dar um bom futuro para os dois – explica o homem, bastante entusiasmado.
− Está bem, Carlos, seja o que Deus quiser – finaliza a mulher ainda com um semblante meio inconformado.

Carlos abraça mais forte o ombro de sua esposa e os dois entram na casa. O sol já está próximo de se pôr, o céu alaranjado combina com a terra encarnada que rodeia a casa da família Lucena.



Para comprar

O livro está a venda em Sobral/CE na Livraria Pensar (North Shoping)Livraria NobelLivraria Max Livros e na Distribuidora Zé Osmar,  diretamente com o Autor pelo e-mail luismboto@hotmail.com ou ainda através do site Clube de Autores.

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